
Lived Experience
Maria Arapoty dos Santos
Arapoty is the Chief of one of the villages in Pico do Jaragua, a territory threated by the dense urbanization in the Sao Paulo. She explains the main issues and how her Guarani worldview supports the community conservation efforts.
Story arranged and filmed by the Next Generation Youth Council.
Transcripts
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View on YouTube here: https://www.youtube.com/watch?v=aNbVTZ3LsUw
Portuguese (Brazilian)
É como uma herança, você fala herança, a gente já fala de conhecimento,
de ensinamento. Minha avó morreu com 135 anos, aí antes de ela morrer, ela ficou comigo,
fiquei com ela por, eu acho, seis meses. Ela juntou todos os netos, levou para casa,
pediu para ficar com ela, ela foi fazer um teste, porque nem todos sabem.
Do meu ponto de vista, com essa nova geração toda, eu acho que não seria só os
povos nativos a trabalhar no meio ambiente, nesse assunto do Meio Ambiente. Seria todas as nações,
tanto indígenas, povo original, e não indígenas. Todos tinham que ter uma cabeça limpa,
tá sofrendo todo mundo devido ao clima.
Muita árvore. Se cada morador de cada prédio pensar desse jeito, como a gente pensa:
construa uma casa, plante uma árvore; construa um prédio, pode construir, plante uns 15,
20 pés de árvores em volta para manter o ar limpo. Porque se eles começarem a destruir
a nossa aldeia, destruir a nossa natureza, eles vão acabar com os remédios deles mesmos, porque a
medicina que eles têm nas farmácias e hospitais para salvar vidas é tirada da nossa natureza,
é o nosso remédio. Hoje o que mais importa é a saúde e se a gente não tiver o meio ambiente verde para a gente
poder respirar o ar limpo, sem poluição, a gente não vai ter vida, não vai ter nada. Quem cuida da nossa saúde somos nós,
é o ar que cuida, não é o médico que vai cuidar.
Com o desmatamento, a nossa saúde tem sido muito prejudicada, não só dos povos indígenas
mas também dos não indígenas, porque o ar tá contaminado, os rios estão contaminados,
a água potável que a gente toma é água que não é água limpa, a gente pensa que é limpa mas
tá suja. E aí que prejudica a saúde, porque tem dia que tá calor, tem dia que tá frio,
tem dia que tá chovendo e outro dia tá sol calorão. Aí o ar muda e
traz doenças e o nosso povo não vai permitir isso, a gente quer a proteção porque
nossas ervas medicinais, a gente tira de onde, da natureza. Eu,
especialmente aqui no Pico do Jaraguá, conheço várias ervas que eu uso. Então eu
tenho que proteger essa floresta, esse cinturão verde, para não acabar a nossa medicina.
E a gente sente as consequências do desmatamento, a gente sente
as queimadas, queimadas que eles fazem criminosamente para
criminalizar o indígena, mas a gente tá aí na luta para recuperar tudo.
E para falar um pouco da saúde, na hora de falar da saúde, nós, Guarani, tem dois tipos de
saúde: a gente tem a espiritualmente, que é a nossa, e a gente tem a que não é nossa, que é do não indígena.
Agora o Jaraguá, o Pico do Jaraguá, a gente tá cuidando, a gente tá trabalhando em reforestar e conversar
com os não indígenas que moram em volta da aldeia, em volta do Pico, para que eles possam ajudar a gente
a reforestar e cuidar porque só assim a gente vai ter saúde para todos, cuidando do meio ambiente.
Para a gente estar aqui hoje no território Jaraguá, não foi eu, não foi os outros líderes,
não foi os outros caciques, que fez, a gente chegou aqui e fez o que quis. Não,
teve alguém lá atrás que já passou por aqui, então esses que veio do passado,
que já não tem mais nada de si, são eles que deixaram essa luta para a gente,
e somos nós que temos que seguir em frente. Se a gente conseguir alcançar a demarcação física para manter
o nosso povo seguro, se a gente não conseguir chegar vivo para alcançar essa demarcação, tem um
jovem lá que vai estar pronto para eles dar continuidade no que a gente tá fazendo.